quarta-feira, 5 de março de 2025

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Jesus em Êxodo 3: O Verbo se fez Carne... e Substantivo

Moisés pastoreava ovelhas quando Deus o convocou para ser pastor de homens, semelhante a Davi (Salmos 78.71). E de forma análoga, Jesus convocou pescadores para se tornarem pescadores de homens. (Mateus 4:19). A mesma voz que convocou um pastor do deserto para ser o fundador da igreja do antigo testamento, depois convocou pescadores de seus barcos, para serem os fundadores da igreja do novo testamento.


O “Anjo de YHWH” ou ainda “Anjo YHWH” (maVak YHWH) apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça, que não se consumia. Deus diz para Moisés não se aproximar porque aquele lugar era terra santa. O Anjo do SENHOR estava na sarça, mas como em outros textos da escritura, esse Anjo é diferente dos outros anjos, sempre ele aparece na Bíblia de maneira intrigante, porque ele fala como se fosse o próprio Deus. E sempre que ele aparece fica aquela dúvida: É um anjo de Deus ou é o próprio Deus? Muito diferente dos outros anjos. Ele é Deus visivel para nós. Diferente de Deus, mas ainda é Deus.


Se o Anjo do Senhor é chamado de YHWH (ou Yahweh) pela Torá, qual impedimento teríamos de dizer que o Filho único de Deus é YHWH? Ele é Deus visivel para nós. Diferente de Deus Pai, mas ainda é Deus.


Esse anjo-pessoa tem características reais: exerce autoridade, exige obediência e decreta ordens. Fala como soberano tanto do Egito como de Israel. Exige humildade em sua presença. Expressa uma preocupação de pastor para com seus súditos; ele os ouviu e respondeu ao seu clamor. Ele liberta seu povo ao mesmo tempo que faz o julgamento dos opressores. Ele protege os escravos e provê para eles. Ele é compassivo e pode demonstrá-lo em virtude de sua autoridade e poder. A conclusão é inconfundível: ele tem todas as características que se espera de uma figura messianica considerado do ponto de vista espiritual, moral, econômico, político ou militar. A expressão maVak yhwh no sentido mais estrito é realmente messiânica — ele é o Messias em manifestações pré-encarnadas.

Este fogo não estava em um cedro alto e majestoso, mas em uma sarça, um arbusto com espinhos (este é o significado da palavra hebraica). Porque Deus escolhe os fracos e despreza as coisas altivas do mundo (assim como Moisés, que agora era um pobre pastor de ovelhas), para com eles confundir os sábios. Segundo Tito Flávio Clemente, conhecido como Clemente de Alexandria (150-215 d.C.), haveria conexão entre esses espinhos da Sarça e a coroa de espinhos que Jesus recebeu em sua crucificação, algo que indicaria o sofrimento humano (advindo da maldição de Gênesis 3:18, que diz que a terra produziria espinhos) e a presença redentora de Deus (na qual Cristo carrega essa maldição sobre si). .

Deus diz para Moisés não se aproximar porque ali era terra santa. A cena é um protótipo do que seria o tabernáculo, uma pessoa da tribo de Levi se aproximando da terra santa onde Deus estava presente, e a sarça que não se consumia prefigurando o candelabro, cuja luz não se apagava. 

Deus se apresenta dizendo “Eu Sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó!”. O SENHOR JESUS usou justamente esse trecho para responder os saduceus (que não acreditavam na ressurreição), deixando-os sem resposta ao comentar “Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mateus 22:32, Marcos 12:27 e Lucas 20:38). Pois Deus não disse que “era” o Deus de Abrãao, Isaque e Jacó, mas disse “eu sou” no presente. Um pequeno detalhe que deixa claro a realidade da ressurreição e a precisão do texto bíblico até nos mínimos detalhes.

E chegando ao clímax do texto, Moisés pergunta o nome de Deus. E Deus responde “Eu sou o que Sou”, ou se formos mais técnicos a tradução seria “Eu Serei o que Serei”. Segundo o professor e hebraísta Luiz Sayão, coordenador da tradução NVI, o sentido é “Eu escolherei ser aquilo que Eu decidir”. Diferente dos ídolos egipcios, onde aqueles que tinham acesso ao nome do ídolo ganhava um certo controle sobre a divindade, o Deus de Israel é Soberano e deixa claro que não pode ser controlado por ninguém. Nas palavras de CS Lewis “Ele não é um leão domesticado”.
Dessa expressão “Eu Sou o que Sou” ou “Eu Serei o que Serei”, que se forma o tetragrama YHWH (יהוה). que é uma forma derivada do verbo "ser" em hebraico. O verbo Ser transformado em substantivo, isto é, o nome de Deus.

Alguns capítulos mais tarde, YHWH promete enviar o “Anjo do Senhor” para conduzir seu povo, e diz que Nele habitava seu Nome:

"Enviarei um anjo à sua frente para protegê-los ao longo da jornada e conduzi-los em segurança ao lugar que lhes preparei. Prestem muita atenção nele e obedeçam as suas instruções. Não se rebelem contra ele, porque não perdoará sua rebeldia, pois nele está o meu Nome." (Êxodo 23:20-21)


O nome de Jesus em hebraico "Yeshua" (ישוע) uma abreviação de "Yehoshua" (יהושע) carrega dentro de si o tetragrama YHWH (יהוה), simbolizando que Jesus carrega em si a essência de Deus. O nome de Jesus literalmente significa "YHWH é salvação" ou “A Salvação pertence a YHWH”. Implicitamente liga os conceitos de Deus como salvador e redentor através de Jesus. E de fato, em JESUS está o nome de DEUS.

YHWH se fez carne e habitou entre nós, e o conhecemos como Yeshua (Jesus). Como um novo Êxodo, YHWH novamente diz “Desci para livrá-lo” (v. 8), não mais numa sarça no deserto, mas agora numa humilde manjedoura. O Verbo novamente se fez Substantivo (Jesus), mas não apenas isso, se fez carne também.

Mas o Deus Eterno, cujo universo inteiro não pode o conter, poderia se tornar um simples ser humano? A resposta está no seu próprio nome “Eu escolherei ser aquilo que Eu decidir”.

“E toda a língua confesse que Jesus Cristo é YHWH, para glória de seu Pai Elohim” (Filipenses 2:11)

“Ninguém pode dizer: "Jesus é YHWH", a não ser pelo Espírito Santo” (1 Corintios 12:3) 


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Jesus em Êxodo 2: O Cesto e a Manjedoura

Os judeus do passado já percebiam ao ler o capítulo 2 de Êxodo, que existe um paralelo evidente entre Noé e Moisés. Ambos são apresentados como figuras salvadoras em momentos críticos da história do povo de Deus. Ambos flutuam na água em uma "teva" — uma palavra hebraica usada tanto para a arca de Noé quanto para o cesto de Moisés. Em ambos os casos, a "teva" é impermeabilizada com piche, representando proteção divina em meio às águas, que tanto simbolizam juízo quanto salvação.

A relação entre água e o salvador é significativa. Noé é salvo para preservar a criação da destruição, enquanto Moisés é salvo para libertar o povo de Israel da escravidão no Egito. Paralelamente, há outros elementos que conectam suas histórias, como o período de 40 dias e noites. Ambos passam esse tempo em isolamento: Noé dentro da arca, aguardando o fim do dilúvio, e Moisés nas alturas do Monte Sinai, recebendo a Lei. Nesse sentido, Moisés surge como um Novo Noé, mas com um papel superior — ele não apenas preserva a vida, mas conduz o povo à libertação e à aliança com Deus. Ao que parece, Deus gosta de contar histórias usando paralelismos.

Contudo, Moisés não é o fim da história. Seu papel como salvador aponta para alguém ainda maior, um paralelo ainda mais importante: Jesus, o Salvador definitivo. Ele foi batizado no Jordão, marcando o início de Sua missão, e na sequência ficou no deserto por 40 dias. Mais ainda, Jesus é a verdadeira "teva", a arca que protege os que estão Nele da condenação eterna. Noé salvou uma família. Moisés salvou uma nação. Jesus salvou o mundo. A revelação de Deus na história é progressiva, e Jesus é o ponto máximo da revelação.

Houveram dois decretos sangrentos assinados para a destruição de todos os meninos que nasciam aos hebreus. Assim foi no nascimento de Moisés, e assim foi no nascimento de Jesus. O cesto de Moisés e a manjedoura de Cristo nos mostram a humildade e a providência de Deus, mesmo nas situações mais adversas. Em ambos os casos, a graça de Deus operou de maneiras inesperadas, usando o que é simples para realizar o extraordinário.


Moisés era um levita.Precisamos lembrar que Jacó deixou Levi sob marcas de desgraça (Gn 49.5). No entanto, Moisés aparece como um descendente dele, para que pudesse tipificar a Jesus, que veio em semelhança de carne de pecado e se fez maldição por nós. Com a chegada do mediador do pacto, Levi tem sua sorte mudada.


Durante três meses Anrão e Joquebede precisaram esconder Moisés sob o risco de suas próprias vidas, tipificando Cristo, que, em sua infância, foi escondido por José e Maria também no Egito (Mateus 2.18), e foi extraordinariamente preservado, enquanto muitos inocentes foram mortos. No quadro dos heróis da fé, o autor de Hebreus (cap 11:23) menciona os pais de Moisés que, pela fé, não temeram o decreto do rei. E podemos pensar na fé de José e Maria que demonstraram obediência e fé ao fugir para o Egito conforme a orientação divina, numa longa viagem com uma criança recém nascida (Mateus 2:13-15). Ambos os casais confiaram em Deus em meio à perseguição mortal contra seus filhos, agindo com coragem para salvá-los.


Como o texto deixa claro, Moisés é um nome egípcio dado pela filha do Faraó. E uma vez que os Evangelhos foram escritos em grego, o Filho de Deus também recebeu um nome gentilico, que é “Iesus”, a semelhança de Moisés. Moisés, sendo o grande legislador judeu, ter um nome egípcio é uma indicação aos gentios (povos não judeus), que há uma esperança para o futuro, conforme foi profetizado quando o próprio Deus dirá “Bendito seja o Egito, meu povo [...] e Israel, minha herança” (Isaías 19.25).


E por fim, Moisés não foi reconhecido pelo seu próprio povo, mesmo depois de se sacrificar e se colocar em risco por eles, o hebreu lhe questionou: "Quem o nomeou líder e juiz sobre nós?”. Jesus também abrindo mão do palácio celestial, se colocou em condição de servo, “veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” (João 1:11), e recebeu o mesmo questionamento dos líderes religiosos: "Com que autoridade estás fazendo estas coisas? Quem te deu esta autoridade?" (Lucas 20:2).


“Pela fé, Moisés, sendo homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado. Ele entendeu que ser desprezado por causa de Cristo era uma riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a recompensa. Pela fé, Moisés abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a ira do rei, pois permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível.” (Hebreus 11:24-27) 


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Jesus em Êxodo 1: 400 anos de silêncio


O livro de Gênesis termina com a morte de José. E logo no início, o livro de Êxodo nos diz que, depois da morte de José, “os filhos de Israel foram férteis, e aumentaram muito, e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles”.

José, sendo um símbolo que prefigura o Messias, já antecipava o que havia de acontecer depois da morte de Cristo. Depois da morte de Cristo, o Israel de Deus (a Igreja) começou a aumentar de forma gigantesca, de maneira que a Terra se encheu do povo da Aliança. A morte de Jesus foi como semear um grão de trigo, que, morrendo, dá muito fruto (João 12.24). “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos” (Atos 6:7). Este aumento extraordinário foi o cumprimento da promessa feita muito tempo antes, aos pais, desde o chamado de Abraão, quando Deus lhe disse pela primeira vez que faria dele uma grande nação e multidões de nações.

“Todavia, quanto mais eram oprimidos, mais numerosos se tornavam e mais se espalhavam” (Êxodo 1:12), e esse crescimento em meio à dura perseguição também aconteceu com a igreja cristã do primeiro século: "Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria. [...] mas os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra." (Atos 8:1, 4). Em ambos os casos, tanto no Israel do Êxodo quanto na Igreja do livro de Atos, o povo de Deus cresceu de modo que parecia uma ameaça aos donos do poder político, que, sentindo-se ameaçados, perseguiram e oprimiram o povo de Deus. Ainda hoje, 3500 anos depois, continua sendo política dos perseguidores difamar o Israel de Deus como um povo perigoso, nocivo, em quem não se deve confiar, nem tolerar, para que possam ter algum pretexto para o tratamento bárbaro que lhes destinam (Esdras 4:12; Ester 3:8).

Com a morte de José, uma nova figura surgirá para prefigurar o Messias. Um novo profeta governará o povo de Deus. Mas desde a morte de José até o nascimento de Moisés, o mediador do antigo pacto, temos um período de 400 anos. E, curiosamente, desde o último profeta do Antigo Testamento até o nascimento de Jesus (o mediador do novo pacto), temos também um período de 400 anos. Em ambos os casos, não há registro ou indícios de que Deus tenha dado alguma revelação ou se comunicado por sonho, visão ou profetas. Nos 400 anos depois da morte do profeta Malaquias e que antecederam o nascimento de Jesus, parecia que Deus estava em silêncio, conforme diz a tradição judaica registrada no Talmud (que não é um texto sagrado):

“Nossos Rabinos ensinaram: Desde a morte de Ageu, Zacarias e Malaquias, os últimos dos profetas, o Espírito Santo cessou de Israel.” (Sanhedrin 11a)

Nesse tempo, surgiram os apócrifos (livros não inspirados por Deus), houve um aumento do misticismo e um esoterismo emergente em Israel. Um dos apócrifos produzidos nessa época chega a mencionar que houve um período de grande aflição em Israel e menciona a ausência de profetas como parte dessa situação:

“Foi então grande a tribulação em Israel, qual nunca fora, desde o tempo em que cessaram os profetas de aparecer no meio deles.” (1 Macabeus 9:27)

Nos 400 anos de Israel no Egito, também aconteceu que muitos israelitas se uniram aos egípcios em seu culto idólatra e esotérico. Por essa razão, lemos na Escritura Sagrada (Jeremias 24:14) que eles serviram a outros deuses no Egito, a ponto de que Deus havia ameaçado destruí-los por causa disso (Ezequiel 20:8). De fato, “quando não há profecia o povo se corrompe” (Provérbios 29:18).

Assim, em ambos os períodos, tanto com Moisés, mas de forma ainda mais profunda com Jesus, Deus mostrou que, mesmo em tempos de aparente silêncio, Ele estava trabalhando para cumprir Suas promessas. Quando os tempos se cumpriram, Deus rompeu o silêncio de forma poderosa e inesperada, trazendo o mediador para restaurar a comunhão com Seu povo e reafirmar Seu pacto.

"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho" (Hebreus 1:1-2) 


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domingo, 4 de agosto de 2024

15:47 - No comments

Jesus em Gênesis 50: O Clímax da Graça


O livro do Gênesis que havia começado com a origem da luz e da vida, agora neste último capítulo termina com trevas e morte. Desde a entrada do pecado no mundo no capítulo 3, o livro de Gênesis se desenrola como uma espiral decrescente em que a humanidade vai se desenvolvendo no pecado e se profissionalizando em sua rebelião contra Deus. Mas Deus faz algumas intervenções nessa história. O dilúvio, o chamado de Abraão e a eleição de José são alguns exemplos da resposta de Deus num mundo caótico. Sendo bem genérico, Gênesis gasta 2 capítulos para falar da criação do mundo, no capítulo 3 o pecado entra no mundo, e o resto dos capítulos é contado a história da família de Jacó. A importância dessa família é evidente: por meio dela virá o descendente de Eva que resolverá o problema do pecado.


O patriarca Jacó é sepultado com as pompas e a honra de um chefe de Estado. Todos os seus filhos subiram para Canaã, os representantes de cada tribo de Israel juntamente com os egipcios (representante dos povos gentios). Jacó foi honrado pelos méritos de um de seus descendentes, que era José (um símbolo do Messias), e não por méritos próprios. Quando vemos as palavras de Isaías 60:1-12, vemos que de maneira análoga a nação de Israel seria honrada pelos povos gentios por causa do Messias, o Santo de Israel. Jesus trouxe honra para Israel assim como José trouxe honra para Jacó.


Com a morte de Jacó, os irmãos de José pensaram que José poderia se vingar agora que seu pai estava morto, mas José os tranquiliza e os assegura de que não os puniria, pelo contrário, os sustentaria no Egito. José, como um símbolo do Messias, nos mostra nessa atitude o que é agir com graça. Geralmente traduzimos a palavra “Graça” para o português como “favor imerecido”, mas na verdade é muito mais que isso. Favor imerecido é presentear alguém que não se esforçou pra receber aquela benção, isso é um favor imerecido, mas ainda não é Graça. Graça é abençoar quem merece maldição, é presentear quem merece castigo, é dar o céu pra quem não só não batalhou pelo céu mas também é digno do fogo do inferno. Graça é favor imerecido para quem merece o contrário. José demonstra graça com seus irmão, não apenas por não puni-los, mas ainda ao abençoá-los garantindo-lhes a provisão.

José reconhece que, apesar de seus irmãos terem planejado o mal contra ele, Deus transformou essa situação em algo bom, permitindo que José salvasse muitas vidas. Os versiculos 19 ao 21 são o resumo e o clímax da história de José e o alge do livro de Gênesis: só Deus pode perdoar pecado e cobrir a culpa do homem pecador, e a providência divina conduz tudo, tornando os maus propósitos dos homens em bem. Deus sabe escrever certo por meio das nossas linhas tortas. E a cruz é o maior exemplo disso.


E por fim José, antes de morrer, pede que seus ossos sejam transportados para a Terra Prometida. Os ossos de José seriam retirados do Egito por Moisés (Êx 13.19) e, mais tarde, foram sepultados em Siquém (Js 24.32).


Eles não deveriam ter esperanças de fixar-se ali, nem considerar o Egito como seu descanso final. Eles deveriam concentrar seus corações na terra da promessa, e chamá-la de seu lar. Pela fé José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel, e deu ordem acerca de seus ossos (Hebreus 11:22).


José depois de morto foi colocado em um caixão no Egito, mas não foi sepultado lá. Aqui está a última semelhança entre Jesus e José: Nenhum dos dois foram sepultados um ano depois da sua morte. No costume judaico, especialmente no primeiro século, somente no dia em que os ossos eram depositados nos ossuários de pedra, cumpria-se literalmente a expressão que dizia "o morto finalmente encontrou os seus mortos". E somente nesse dia, tinha-se cumprido o rito do sepultamento. Ou seja, a pessoa só era de fato sepultada por completo um ano depois da sua morte. Embora de forma tardia, o corpo de José foi sepultado alguns séculos depois. Mas no caso de Jesus, os estudiosos apontam como uma forte evidência da ressurreição de Jesus, pois ninguém realizou seu sepultamento um ano depois, porque obviamente não havia corpo para sepultar. 


Durante o período de peregrinação no Egito, os ossos de José se tornaram um símbolo da esperança do retorno para a Terra Prometida. E por meio da morte de Cristo, ao contemplarmos aquela cruz (agora vazia) e aqueles ossos não quebrados, Deus plantou a esperança do nosso retorno ao lar definitivo, a Terra Prometida, a Nova Jerusalém Celestial. Ainda não chegamos em casa. 

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quarta-feira, 31 de julho de 2024

17:23 - No comments

Jesus em Gênesis 49: A Herança de Israel

Jacó está prestes a morrer, chegou a hora de repartir a herança de Israel. Jacó dá as bênçãos e profecias finais para seus doze filhos, um discurso sobre o futuro de cada uma das tribos que é fundamental para entendermos várias dinâmicas que se cumpriram séculos e milênios depois da morte de Jacó. Este capítulo sozinho tem tanta riqueza que valeria uma monografia inteira. Em razão dos pecados de Rúben, e da crueldade de Simeão e Levi, recai sobre Judá a honra de ser o portador da linhagem da semente santa (Gn 3.15). Repare que Jacó, em seu discurso a Judá, não diz que seus irmãos hão de louvar a Deus por ele, mas a ele; o próprio Judá será objeto de louvor. Meio doido, né? Isto é realmente surpreendente, até porque Judá realmente não se destacou como líder, e nada se falava de um governo de Judá até o reinado de Davi (quase 1000 anos depois). “Os filhos de teu pai se inclinarão a ti”. A palavra usada aqui no texto significa prostrar-se diante de um superior. Em contexto de culto, o termo significa adorar. Jacó usou o termo para indicar submissão a um governante, um monarca. Portanto, Judá, e não José (que era o filho amado), foi colocado diante dos irmãos como a tribo governante. Muito antes do ministério de Cristo sobre a terra, os sábios de Israel já haviam entendido: esse texto apontava para o Messias, o descendente de Judá. Para expressar a preeminência e o poder de Judá, Jacó o chama de “gür” que é o filhote de leão, e depois de ’aryêh que é o leão adulto. A imagem é de um animal jovem, que vai se desenvolvendo até tornar-se grande e poderoso.

“o cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de sua descendência, até que venha Siló, aquele a quem o cetro pertence, e a Ele obedeçam todos os povos da terra!” (Gênesis 49:10)

Existe uma discussão sobre o que Jacó quis dizer quando ele menciona a palavra Siló, mas resumindo, há um acordo majoritário entre os estudiosos que o termo hebraico Silõh não se refere a um lugar. Existe uma antiga tradução em aramaico que traduz esse termo como “até que venha o Messias”, o que parece concordar muito bem com o contexto, e também está em harmonia com a mensagem de Ezequiel (Ez 21.23-27). Há um elemento de extravagância na figura do jumento e seu jumentinho, um animal de carga que representam um estilo de vida humilde, tendo permissão de comer as videiras, que seria a conseqüência natural de serem amarrados a elas. Em outras palavras, o reinado do Messias seria próspero. O jumento no oriente antigo era visto como um animal pequeno, mas com muita força. Assim é a chegada do reino de Deus, sem visivel aparência, mas é extremamente poderoso. É interessante que a expressão “jumentinho… filho da jumenta”, é mais tarde usada pelo profeta Zacarias para retratar a entrada do Cristo em Jerusalém (Zc 9:9). A lavagem das vestes "em vinho" (49.11b), remete ao pisar das uvas no lagar e o esguichar do suco vermelho nas roupas são símbolos de trabalho penoso, luta, sofrimento e até morte (como a de um dos dois príncipes midianitas num lagar [Jz 7.25]); algumas vezes o lagar que Deus pisa "sozinho" (Is63.3) é um símbolo da ira de Deus (Ap 14.19,20; 19.15). O trecho que menciona vermelhidão dos olhos pode estar falando de prosperidade misturada com labuta e sofrimento. O uso de leite (v12) indubitavelmente sugere boa saúde e bem-estar geral. Em resumo, pode-se dizer que Jacó prevê grande prosperidade para Judá e seu sucessor real, que será compartilhada por todos sob o seu governo. No entanto, também pode haver uma alusão à luta, sofrimento e derramamento de sangue; uma prosperidade que não vem sem custo. Sobre a benção de José, Jacó diz que José é ramo frutifero e que seus galhos se estendiam sobre o muro. No capítulo anterior, em Gênesis 48, expliquei melhor como a benção de Efraim derrubou pela cruz o muro de separação. E talvez assim, possamos entender porque Jacó diz que as bençãos sobre José seriam tão maiores“até os montes eternos”, que as bençãos de Abraão, Isaque e Jacó. Ao falar de Dã, do futuro da tribo e as guerras que ela enfrentaria, Jacó parece pegar alguma simbologia emprestado de Gn3.15: “serpente…víbora…morde o calcanhar”. E na sequência ele interrompe a profecia e faz uma breve oração “A tua salvação espero, ó Senhor”. Em hebraico, esse texto é ainda mais bonito, pois diz: “O teu YESHUA espero, ó DEUS (YHWH)”. E Yeshua é Jesus em hebraico. Qualquer pessoa que ler as bençãos de Jacó, tem a sensação que Judá e José tiveram preeminencia e destaque, mas o verdadeiro destaque no texto é para o mais excelente de todos, o primogênito que abriu mão do seu direito de primogênitura pelos irmãos mais novos, o que se fez maldito para nos resgatar, o descendente de Judá que seus irmãos louvarão e cujo governo do seu cetro será eterno, aquele que lava as nossas roupas no seu próprio sangue, aquele que habitou “na praia dos mares” de Zebulom, que teve humildade e disposição para carregar as cargas de Issacar, aquele Salvador que Dã esperou, o Filho de Deus que expulsou a tropa de demônios que acometia o homem de Gade (Mc 5:1-20), o pão da vida abundante de Aser que produz delícias reais, aquele que como uma gazela (Cânticos 2:8-9) veio pelos montes de Naftali e lá pregou as mais belas e impactantes palavras das escrituras sagradas (Mt 5-7), o ramo frutifero de Jessé que estendeu seus galhos sobre o muro e rompeu a divisão que nos separava de Deus, ele que foi ferido, mas o seu arco permanece firme. Sim, o Poderoso de Jacó, o Pastor e a Pedra de Israel. Sim, Jesus Cristo é a herança e a verdadeira benção de Israel. 

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terça-feira, 21 de maio de 2024

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Jesus em Gênesis 48: Efraim e o Mistério de Cristo


Jacó abençoa os filhos de José, e neste momento ele relembra da benção que Deus lhe deu em Luz, quando lhe disse “Eu sou o Deus Todo-Poderoso; sê fecundo e multiplica-te; uma nação e multidão de nações sairão de ti” (Gênesis 35:11). É óbvio que a nação seria Israel, mas quais seriam as multidões de nações e como elas descenderiam de Jacó? Este capítulo é um dos que lança luz sobre esta questão.


Jacó inicia uma cerimônia de adoção dos filhos de José, dizendo “os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus; Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão”. Esta é mais uma fala que demonstra que José é um símbolo do Messias, pois aos seus filhos gentios é dado o “status” de filhos de Jacó em ‘pé de igualdade’ com os demais, como Rúben e Simeão. José está acima dos seus filhos, e portanto, implicitamente acima dos seus irmãos.

José coloca o filho mais velho, Manassés, na mão direita de Jacó (para receber a maior benção) e Efraim na mão esquerda. Mas Jacó cruza as mãos, em formato de cruz, e coloca a mão direita sobre Efraim, e a esquerda sobre Manassés. José fica incomodado e tenta trocar as mãos do pai:


"Não, meu pai", disse ele. "Este é o mais velho; coloque a mão direita sobre a cabeça dele." Mas seu pai se recusou e disse: "Eu sei, meu filho; eu sei. Manassés também se tornará um grande povo, mas seu irmão mais novo será ainda maior. E seus descendentes se tornarão muitas nações".


Jacó abençoou os meninos dizendo “o Deus que tem sido meu pastor toda a minha vida, até o dia de hoje, o Anjo que me resgatou de todo o mal, abençoe estes rapazes”, Jacó se lembrou do encontro com o Anjo do Senhor, que é o próprio Jesus (leia o comentário de Genêsis 32), e parece que Jacó faz um paralelo entre Deus e o Anjo, como se fossem a mesma pessoa. E de fato era. A palavra aqui traduzida como "resgatou" é, no texto original "goel" que significa redimiu/resgatou/libertou. “O Goel” é o Redentor. Um simples anjo não pode redimir ou perdoar, pois somente Deus pode perdoar pecados (Salmo 103:2-3, Marcos 2:5-7). Jacó invoca o Anjo para abençoar seus netos, e continua dizendo “e multipliquem-se como peixes, em multidão, no meio da terra”. Impossível não lembrar de quando Jesus se encontrou com pescadores no mar da Galileia, e lhes disse "Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens".


Aproximadamente 830 anos depois, Deus dividiria o Reino de Israel em dois, por causa dos pecados de Salomão. O Reino do Norte ficou conhecido como Casa de Israel ou Casa de Efraim, liderado por Efraim e o Reino do Sul (Judá e Benjamim), liderado por Judá. O Reino do Norte (a Casa de Efraim) rapidamente se entregou aos casamentos mistos (israelitas se casando com os povos extrangeiros). Na sua desobediência, a Casa de Efraim foi espalhada por todo o mundo, e ao se misturar com os outros povos, passaram a seguir os deuses e os costumes deles. Com o tempo, a maioria deles se tornaram inimigos do povo de Deus, e aqueles que permaneceram no Reino do Norte, seriam genericamente chamados de “samaritanos”.

Quando olhamos para a primeira parte do ministério de Jesus foi apenas para resgatar as “ovelhas perdidas da Casa de Israel” (Mateus 15:24), dentro dos limites do que seria o Reino restaurado de Davi. E não é de estranhar que a região do mar da Galiléia (na Casa de Efraim) foi o “quartel general” do ministério de Jesus, e não é de se estranhar que uma das primeiras pessoas a receber a revelação de que Jesus era o Messias foi uma mulher samaritana (João 4).


Ezequiel havia profetizado que por meio de dois pedaços de madeira, Deus iria unir novamente as duas casas (Judá e Efraim), e então o rei descendente de Davi seria o pastor deste povo para sempre (Ezequiel 37:16-27). A cruz de Cristo é o ato unificador e restaurador do Reino perdido de Davi. Por dois pedaços de madeira, o menor simbolizando a Casa de Judá, e o maior representando a Casa de Efraim (“duplamente frutifero”), que Deus pôs um fim na separação e na inimizade.

Vemos no ministério de Paulo, que a casa de Efraim foi a porta de entrada para a pregação do Evangelho aos povos gentios. Deus espalhou as tribos, para espalhar Cristo. E no corpo de Cristo na cruz, Ele reúne em Sião todas as nações. Na cruz, Jesus reconcilia o mundo inteiro com Deus, judeus e gentios, simbolizados em Judá e Efraim. Repare que antes da cruz Jesus orienta os seus discipulos a pregarem dentro de Israel (Mateus 10:5), após a ressurreição, Jesus instruiu seus discípulos a levarem sua mensagem a todas as nações (Mateus 28:19-20; Atos 1:8). Conforme o apóstolo Paulo disse “Por meio do sacrifício do seu corpo, Cristo derrubou o muro de inimizade que separava os judeus dos não judeus.” (Efésios 2:14)


Efraim e Manassés receberam uma herança que originalmente não era deles. Da mesma forma, através de Jesus, os crentes tornam-se co-herdeiros com Cristo (Romanos 8:17), recebendo uma herança espiritual que não mereciam. Judeus e Gentios se tornam um só povo, os gentios não precisam se tornar judeus, nem os judeus em gentios, mas pela cruz somos feitos um só reino, um só povo, uma só aliança, debaixo de um só Rei e Senhor. Sou judeu? Não. Sou gentil? Não. O que sou? Discipulo de Jesus.

“Ao lerem isso vocês poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo. Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus, a saber, que mediante o evangelho os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (Efésios 3:4-6).


Deus te faça como a Efraim e como a Manassés. 

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domingo, 7 de abril de 2024

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A revelação de Jesus Cristo em Gênesis 47: Um José melhor

 

José, mesmo sendo como o próprio Faraó (Gn 44:18), se coloca em posição de súdito, mostrando submissão pelo seu rei. Jesus, semelhantemente, sendo nosso irmão e governante, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Filipenses 2:6,7). 

O consentimento do Faraó está de acordo com o desejo de José. Assim também, o Pai atende a todos os pedidos que Jesus faz em relação àqueles que lhe pertencem. O melhor do reino é para sua família.


Jesus insere os seus seguidores no seu reino, da maneira como foi estabelecido pelo seu Pai (Mateus 20.28). Jesus, assim como José aqui, não se envergonha dos irmãos. Aqueles homens indignos e abomináveis (especialmente no Egito), pobres pastores, foram recebidos diante da presença do grande rei do Egito não por méritos próprios, ou por algum valor em si mesmos, mas pelo valor que Faraó atribuía a José. De mesmo modo, o Deus Altíssimo nos recebe em sua presença e no seu reino, não por qualquer valor em nós mesmos, nem por algum mérito nosso, mas pelo valor e méritos de Jesus. 

José obteve de Faraó a concessão de um assentamento na terra de Gósen. Jacó descreve sua própria vida como uma peregrinação. Se ele se considerava um viajante neste mundo, é porque sabia que estava rumo a outro mundo. Tal afirmação nos remete à carta aos Hebreus, que diz que os patriarcas “aguardavam pela pátria excelente, ou seja, a pátria celestial. Por esse motivo, Deus não se constrange de ser conhecido como o Deus deles, mas lhes preparou uma cidade”.


Já não tendo mais nada com o que pagar pela comida, os egípcios pedem que José os compre, e assim José compra todo o povo para Faraó, onde apenas os sacerdotes egípcios não se tornaram servos do rei. Anos depois isso abriria margem para a tirania de um próximo Faraó. 


Enquanto os sacerdotes egípcios tinham muitos privilégios, o que é típico de todos os sistemas religiosos, sendo os únicos egípcios que não precisaram vender suas terras, em Israel aconteceria o contrário: A tribo de Levi (a tribo dos sacerdotes) seria a única tribo que não receberia terras, pois o SENHOR seria a sua herança no meio dos filhos de Israel (Números 18:20). Em Apocalipse, lemos que Jesus “comprou para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”. Como é bom ter sido comprado por um rei bondoso e eterno, e que nos trata como seus filhos. Quão alta posição é ter o privilégio de ser um escravo de Jesus.

É muito melhor ser escravo de Jesus do que dono da sua própria vida, nenhuma posição neste mundo é melhor do que esta. E esse é o grande paradoxo: o homem é mais livre quando ele é escravo apenas de Cristo. “Mas, graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido escravos do pecado, passaram a obedecer de coração à forma de ensino que lhes foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e tornaram-se escravos da justiça” (Rm 6.17,18).

 

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